Zygmunt Bauman: Mixofobia e xenofobia

Imagem: Canal Ciências Criminais

O sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, aborda as "relações líquidas", em que as relações amorosas deixam de ter o aspecto de união e passam a ser um mero acúmulo de experiências, e a insegurança seria parte estrutural da constituição do sujeito pós-moderno, conforme o autor escreve em Medo Líquido. 

Bauman é frequentemente descrito como um pessimista, no que diz respeito a sua crítica à pós-modernidade. No livro “Amor Líquido” (2004), o autor inicia o capítulo 3, “Sobre a dificuldade de amar o próximo”, com a seguinte frase: 
“A invocação de ‘amar o próximo como a si mesmo’, é um dos preceitos fundamentais da vida civilizada. É também o que mais contraria o tipo de razão que a civilização promove: a razão do interesse próprio e busca da felicidade” (p. 99). 
Entretanto, o assunto do texto de hoje, será uma breve introdução do conceito de Mixofobia e como esse sentimento pode resultar na xenofobia. Assim, Mixofobia em sua raiz é “aquela sensibilidade alérgica e febril aos estranhos e ao desconhecido – jazem além do alcance da competência arquitetônica ou urbanística. Estão profundamente fincadas na condição existencial dos homens e mulheres contemporâneos, nascidos e criados no mundo fluido, desregulamentado e individualizado pela mudança acelerada e difusa” (BAUMAN, 2004, p. 141).

O autor relata que a Mixofobia é o medo de se misturar com o desconhecido, e é alimentado por uma sensação de insegurança do mundo líquido. Ou seja, mulheres e homens inseguros, incertos de seu lugar no mundo, de suas perspectivas de vida e dos efeitos das suas próprias ações, são mais vulneráveis a cometer mixofobia e mais propensos a caírem nas suas armadilhas. 

Isso traduz a ideia de uma pessoa que está ocupando ou usurpando um posto ou lugar que não lhe corresponde. Além disso, existe o termo Mixofilia, também cunhado pelo polonês. Este, no sentido oposto a mixofobia, é o prazer de estar em um ambiente diferente e estimulante. 

A Mixofobia se torna algo presente no cotidiano quando a homogeneidade social do espaço, enfatizada e fortalecida pela segregação espacial, reduz a tolerância de seus moradores à diferença e, assim, multiplica as possibilidades de reações mixofóbicas, fazendo a vida urbana parecer mais "propensa ao risco" e portanto mais angustiante, em lugar de mais segura, agradável e fácil de levar. 

Quando o Estado de bem-estar social entra em declínio e demonstra não mais poder exercer a sua função de proteção dos indivíduos, sua legitimidade colapsa. Esse processo alcança um ponto de culminância que faz com que o Estado busque vias alternativas de legitimação. Nesse rumo, fomentar medos coletivos e demonstrar – ainda que simbolicamente – eficiência em ações relacionadas à tutela da segurança pessoal, acaba sendo uma das estratégias utilizadas. 

E, para isso, é preciso ter um “inimigo” a combater, o que faz surgir um novo “papel” a ser desempenhado pelos “sem-papéis” (imigrantes irregulares). Em função disso, a xenofobia, conforme Bauman (2009) é: 
“a suspeita crescente de um complô estrangeiro e o sentimento de rancor pelos ‘estranhos’ que pode ser entendida como um reflexo perverso da tentativa desesperada de salvar o que resta da solidariedade local” (p. 20-21). 
Ademais, olhando para um espectro menor, analisando os bairros dentro de uma cidade, é possível perceber a identificação que as pessoas de cada bairro têm consigo mesmas, e como gera um sentimento de estranheza quando há a migração de um bairro para outro. Então, por exemplo, uma empregada doméstica moradora de um bairro de periferia, ao andar nas ruas do bairro nobre onde trabalha, é observada pela população local e as pessoas do bairro notam que ela não é residente daquele lugar, e está ali apenas de passagem, pois ela não se veste como os residentes, e nem se comporta como eles. 

Nesse momento, os residentes intuitivamente podem se amedrontar em relação a ela, uma vez que isso instiga o sentimento mixofóbico por conta de ter um desconhecido na área. Dado o exposto, o sentimento da mixofobia está enraizado e normalizado no cotidiano das pessoas, passando de maneira despercebida por quem comete tal atitude, Porém, quem sofre com os olhares de julgamento da sociedade burguesa principalmente, sabe o que é o ato mixofóbico, mas desconhece o termo cunhado.

Por: Josueh Regino

Referências Bibliográficas 
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Editora Schwarcz-Companhia das Letras, 2004.
BAUMAN, Zygmunt. Confiança e medo na cidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.

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