Imagem: Jornal Opção
Os
dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística) de 2019 apontam que a população brasileira é composta por 46,8%
de indivíduos pardos, 42,7% de brancos, 9,4% de pretos e 1,1% de amarelos ou
indígenas. É importante ressaltar que essas informações são obtidas através da
autodeclaração e, portanto, estão associadas a como cada um se entende na
sociedade.
Quando abordamos raça, é fundamental pontuarmos
alguns aspectos iniciais devido à complexidade da temática no Brasil. O
primeiro ponto é que o conceito raça foi uma categoria de classificação social
criada pelos europeus no período colonial. No século XVIII, a ciência moderna e
eurocêntrica acreditava na subdivisão entre os seres humanos baseada nas
características físicas (cor da pele principalmente) dos grupos sociais, sendo
eles os povos negros africanos e os povos nativos americanos. Além disso, o
Ocidente pressupunha a superioridade da raça branca frentes às demais. Essa foi
uma das justificativas que endossou o processo de dominação e exploração
durante a formação das Américas, que estuprou, escravizou, torturou e matou
milhares de indivíduos.
Nossa
sociedade foi construída sobre esse preceito. Entretanto, hoje esse discurso
foi refutado e sabemos que, biologicamente, não existem diferenças substanciais
entre os organismos humanos que justifiquem a ideia de raça, as diferenças são
socioculturais. Assim, atualmente, entendemos a raça como uma construção social
(foi inventada, ou seja, não é algo natural), que marca a desigualdade e
hierarquia entre as pessoas, em função de um discurso que já foi desmentido.
Cada indivíduo é atravessado por um marcador (raça, gênero, classe), que
constitui sua subjetividade e sua identidade perante a comunidade
(estabelecendo suas oportunidades).
O segundo ponto é o mito da democracia racial. Abdias
Nascimento em sua obra intitulada O genocídio do negro brasileiro – processo
de um racismo mascarado alerta sobre o perigo da teoria cunhada por
Gilberto Freye. Basicamente, a ideia central é que devido ao processo de
miscigenação não existem brancos ou negros no Brasil. Essa abordagem é extremamente
desleal porque mascara a forma desigual como a nossa sociedade é organizada. Os
negros são 75% entre os mais pobres e os brancos, 70% entre os mais ricos. Aliás,
os espaços de poder são majoritariamente (para não dizer exclusivamente) ocupados
por indivíduos brancos. Então, raça é um marcador social, como já foi falado, e
qualquer tentativa de apagamento ou suavização de sua existência é desonesta.
Quando analisamos o cenário político do país, um dado chama
atenção. Ainda que os não-brancos representem mais da metade da população, não
ocupam a maioria dos espaços políticos, como as câmaras de vereadores e as
câmaras de deputados. Em 2016, por exemplo, apenas 42,1% dos veadores eleitos
eram negros e pardos. Já em 2018, negros e pardos compunham 24,4% dos deputados
federais e 28,9% dos deputados estaduais eleitos. Mais um traço do racismo
brasileiro, que coloca a população negra e parda à margem, sem uma participação
efetiva na elaboração de políticas públicas.
Em novembro desse ano, acontecerão no Brasil as eleições
municipais. Quantos candidatos negros e candidatas negras têm na sua cidade?
Quantos negros e negras já tiveram o seu voto? É a partir de questionamentos
críticos e que centralizam o debate racial, que podemos começar a fazer
diferença e tentar construir uma sociedade menos desigual e mais
representativa.
Referências:
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA – IBGE. Conheça o Brasil – População: cor ou raça. Disponível
em: <https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18319-cor-ou-raca.html#:~:text=De%20acordo%20com%20dados%
20da,1%25%20como%20amarelos%20ou%20ind%C3%ADgenas.> Acesso em: 28 de out. de
2020
_________________. Desigualdades
Sociais por Cor ou Raça no Brasil. Disponível em: < https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/25844-desigualdades-sociais-por-cor-ou-raca.html?=&t=resultados>
Acesso em: 28 de out. de 2020
NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do
negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. 3.ed. São Paulo:
Perspectivas, 2016.
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