Hungria: Atentado a democracia

Imagem: Parlamento de Budapeste. Fonte: Naturam

O Parlamento húngaro aprovou nesta segunda-feira (30/03) um estado de emergência de duração indeterminada, que dá ao primeiro-ministro Viktor Orbán carta branca para governar por decreto por tempo ilimitado. A decisão foi aprovada sob o argumento de ser uma medida necessária para conter a pandemia do novo coronavírus.

Porém, além de permitir que Orbán governe por decreto, a lei estipula penas de prisão para aqueles que compartilharem, intencionalmente, informações que atrapalhem a resposta do governo à pandemia. Isto levanta medo de que a medida possa ser utilizada para censurar as liberdades de imprensa e de expressão, uma vez que Orbán é defensor do que ele chama de "democracia iliberal", em que aumentou progressivamente seu poder durante sua década na chefia do governo húngaro, passando a intervir no Judiciário, nos organismos culturais e promovendo meios de comunicação de empresários aliados (O Globo, 2019).

O Mirada Sureña entrevistou antropólogos e cientistas políticos húngaros para entender a situação a partir de um olhar interno. A identidade dos mesmos foi preservada para manter a segurança destes. Abaixo, se encontram os comentários apresentados por um dos entrevistados.

"Ele (Viktor Orbán) estava dando pequenos passos em direção à ditadura e agora, essa situação lhe permite alcança-lá. Ele vem explorando a classe média há décadas. E o mais importante, tem o apoio dos católicos romenos na Hungria. Pelo dinheiro público que agora é quase exclusivamente adquirido aos jardins de infância católicos e as escolas de ensino médios. Isso já foi revelado durante a crise dos refugiados (esta relação entre católicos e Orbán).

O mais estranho para mim é que, apesar de ter causado muitos conflitos familiares no passado, a conversa sobre qual partido uma família apoia, agora cessou. Você cala a boca, não se discute mais. A imprensa livre cessou hoje. Foi promulgado em lei que quem dissesse o contrário do governo, esta pessoa pode ser presa. Quando a liberdade de expressão acaba, tudo acaba.

Eu acho que dar poder exclusivo e individual às mãos de alguém é um erro. Ninguém pode decidir o destino dos habitantes de qualquer país. A realidade da democracia está sendo questionada por essa situação."

Texto: Samara Oliveira
Entrevista: Daniel Silva

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