A Super Quarentena

Imagem: Observatório do Cinema.

Há quase um ano atrás, no fim do mês de Abril de 2019, o mundo todo aguardava a estreia de um filme que prometia dar um fim a uma história que conquistou fãs por todo o planeta, Vingadores: Ultimato. Numa crítica muito bem escrita sobre a obra, Bruno Carmelo, no portal Adoro Cinema, descreve o filme da seguinte forma: "Mais do que qualquer filme precedente do Universo Cinematográfico Marvel, Vingadores: Ultimato serve a pensar a maneira como as fantasias de super-heróis representam o nosso medo de lidar com a morte. 

Os personagens possuem poderes excepcionais, que a princípio garantiriam uma chance de sobrevivência superior àquela dos seres humanos comuns. No entanto, os protagonistas são ameaçados o tempo inteiro, enfrentando adversários igualmente poderosos. No universo dos quadrinhos, heróis morrem a todo instante – e também ressuscitam com frequência, em virtude de magias e novos desenvolvimentos tecnológicos." 

Quero chamar a atenção do leitor à seguinte frase: Ultimato serve a pensar a maneira como as fantasias de super-heróis representam o nosso medo de lidar com a morte. Jonathan Haidt em sua obra "A Hipótese da Felicidade" afirma que o ser humano tem medo do escuro, não pelo escuro em si, mas por não saber o que há em sua frente, e isso é o maior medo do ser humano, não saber o que o futuro lhe preserva, não saber o que há em sua frente. Na verdade, a única certeza que temos nessa vida, é a morte, e por isso, buscamos criar mecanismos para escapar dessa certeza inevitável. 

Atualmente, mais precisamente nesse 1º de Abril de 2020, vivemos uma situação que gostaríamos que fosse mentira ou apenas um filme bem produzido pelos grandes estúdios de Hollywood, vemos o nosso destino inevitável cada vez mais próximo, o Covid-19 não tem a sensibilidade de rivais como Thanos, que nos explicam seu plano de ataque, pontos fracos ou como podemos derrotá-lo. A única informação que temos até o momento é que ele se espalha de maneira extremamente rápida e eficaz. Não temos um plano de ataque como os heróis que nos acostumamos a idolatrar e nos fizeram acreditar que o final é feliz, quando na realidade o final de todos nós é sabido desde o início de nossas vidas, a morte. 

Não somos heróis, eles morrem a todo instante, e ressuscitam com frequência, nós, meros humanos, não. Muito é falado sobre o grupo de risco, que eles sim devem se manter em casa, venho nesse texto afirmar que não somos heróis, mas podemos ser vilões de toda a sociedade, caso não fiquemos em casa. O grupo de risco não são os idosos, o grupo de risco são aqueles que insistem em acreditar que é só uma "gripezinha", sejam eles presidentes, estudantes ou aposentados. 

Nessa luta pela vida, onde muitos humanos como nós, tem perdido batalhas devido a falta de cuidados no início da doença, muitos de nós ainda podemos escolher o nosso lado, não somos heróis, não temos o poder de voltar à vida quando julgarmos necessário. No entanto, não precisamos ser vilões, ao escolher sair de casa para voltar a uma vida que não existe mais. Daqui alguns anos, pessoas lerão livros e não vão entender o porquê pessoas saíram de casa, tendo um plano tão seguro contra essa doença que nos rodeia. 

Não seja um herói dos quadrinhos, seja um herói dos livros de história, fique em casa!

Por: Daniel Silva

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