As movimentações estadunidenses e a América do Sul na crise Venezuelana

Imagem: REUTERS

Em 31 de Março de 2020, o Governo dos Estados Unidos anunciou o Quadro de Transição Democrática para a Venezuela. Neste documento há uma série de propostas a Venezuela para que haja uma transição "democrática" no país. O texto prevê: o retorno da Assembleia Nacional [que tem Guaidó como presidente] e a dissolução da Assembleia Nacional Constituinte; a saída de todas as forças estrangeiras do país [os russos, por exemplo]; a formação de um governo provisório; e o fim dos embargos econômicos europeus e estadunidenses ao país (veja a nota na integra).

Alguns dias após esta proposta, os Estados Unidos fez movimentos militares no Mar do Caribe, direcionando aviões e destroiers para a região. Segundo os americanos, a medida era para evitar que Maduro se aproveitasse da Crise da COVID-19 para contrabalancear o narcotráfico. 

Diante desta movimentação, todos os países sul-americanos emitiram notas em relação a esta situação. O Grupo de Lima, criado para articular uma saída mais contundente na Venezuela e que apoia o autodeclarado presidente Juan Guidó, apresentou um comunicado conjunto. Lembrando que este grupo tem Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Panamá, Paraguai e Peru como membros, além do apoio de Estados Unidos e União Europeia. O comunicado do grupo declara apreciação às medidas contidas no Quadro de Transição Democrática feito pelos Estados Unidos, pontuando a necessidade de que seja uma saída pacifica e democrática. 

Uruguai, Argentina e Equador postaram suas próprias notas. O Estado uruguaio afirmou que “a proposta oferece oportunidade às partes na Venezuela para construir uma saída democrática”, frisando a urgência de uma solução, tendo em conta o acentuamento da Crise da Covid-19. O Equador afirmou que a proposta estadunidense contém princípios e elementos fundamentais para um saída democrática para o país irmão. Por fim, a Argentina argumentou que a saída para a situação deve resultar dos próprios venezuelanos e sem condicionamentos externos. 

O Governo venezuelano de Nicolás Maduro, em carta à nação, afirmou que os Estados Unidos tentam constranger militarmente o país, fazendo a maior movimentação militar em 30 anos. Maduro também declarou que está movendo tropas da força venezuelana para pontos estratégicos afim de proteger a pátria. O Chefe de Estado não comentou sobre as propostas. 

Levando em conta estes elementos, percebe-se um certo oportunismo estadunidense em tentar depor Maduro em meio a um contexto de crise, onde o mundo todo está concentrado em questões sanitárias e poderia não dar a atenção necessária para o conflito na Venezuela. A posição do Grupo de Lima, Uruguai e Equador vem de forma a legitimar essas iniciativas, pois são países da América do Sul que estão concordando com estas movimentações. 

O único ponto fora da curva é a Argentina que se mantém diplomaticamente num discurso de autodeterminação dos povos. Maduro está isolado na América do Sul, possuindo apenas apoio externo russo e chinês, que certamente possuem interesses geopolíticos na região. Estes dois países e as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas mantém o Chefe venezuelano no poder. 


Por: Adam Barbosa

Comentários