A China e a terceira via: O Energy Power

Imagem: Ponto Final Macau

Percebendo o crescimento da utilização de fontes de energia provenientes de fontes renováveis, mais precisamente a energia solar, é preciso evidenciar que a China está buscando diminuir cada vez mais sua dependência de recursos energéticos provenientes de fontes fósseis, ou seja, do uso de hidrocarbonetos. 

Referente a essa tendência pelo abandono dos hidrocarbonetos, é possível observar o crescimento de um consenso acerca do teor prejudicial que a utilização destas fontes de energia geram para o meio ambiente. Isto em razão da presença cada vez maior deste tema, em fóruns internacionais que geram diretrizes acerca do desenvolvimento sustentável. Como exemplo, confiram os relatório das Nações Unidas sobre meio ambiente e a emissão de gases (ONU, s/a).

Dito isto, nesta análise vamos classificar a China como catalisadora de alterações globais no que tange a matriz energética mundial, bem como inferir alguns pontos que tornam a China mais relevante nos debates, de modo a colocar o Estado chinês como principal ator destas alterações globais que, além de influenciar o âmbito energético, influência na política e economia internacional.

Neste aspecto, podemos perceber que a China está ampliando sua busca por energia solar, visto que em 2016, foi o país que realizou maior crescimento de capacidade proveniente da matriz solar, sendo 45% de toda a expansão mundial daquele ano, além de ser o maior produtor de energia solar (78,100 MW) de capacidade instalada e detendo aproximadamente 25% do total da produção mundial (Portal Solar, 2017).

Com isso, a estratégia da China se voltará para a crescente presença em reuniões e organizações de caráter global voltadas ao meio ambiente, de modo a garantir sua legitimidade para abordar o assunto, propor práticas e iniciativas, dado que, além de desenvolver capacidade doméstica de produção de energética renovável, o país coloca-se também como provedor de tecnologia e infraestrutura para demais países que acatarem a mesma lógica de produção sustentável. 

A partir disso, notamos que seu nível de influência sobre os Estados que irão se submeter na questão energética, se tornará o vetor da direção dos interesses chinês, visto que a cada dia a China busca uma posição mais assertiva no sistema internacional e direcionada ao crescimento mútuo em diversos setores da economia mundial.

Nessa lógica, a China poderá ditar seus valores, através da normatização de regras e normas concretizando seus interesses em acordos ou regimes internacionais. Todavia, esta estratégia já foi aplicada durante a história do “jogo internacional” pelo ocidente, principalmente com a projeção estadunidense de expansão, em que institucionalizou seus interesses e valores, por exemplo, com a criação da Organização dos Estados Americanos (OEA) ou o Fundo Monetário Internacional (FMI). 

Notando este movimento aplicado pelo ocidente direcionado pelo Hard e Soft Power (Nye e Keohane, 2001), a China tenta se desviar ao aplicar uma terceira via de poder, o Energy Power. Dessa forma, como sintetiza Guimarães (2016):


"O Poder da Energia, Energy Power, é a capacidade de uma nação em empregar suas vantagens em tecnologia e produção de energia para promover seus interesses globais e contrariar os de seus rivais."


Nesse sentido, podemos perceber que outro vetor de decisões utilizado pela China, é o fato de portar a tecnologia que dita os desdobramentos da utilização do Energy Power. Assim, o Estado chinês tende, eventualmente, a possuir um instrumento de ação além dos convencionais do Hard e Soft Power. Neste aspecto, levanta-se a questão: Serão os temas relacionados a recursos energéticos um dos pilares de um sistema pós ocidental, no qual, terá a China como ator preponderante no desenho das características estruturais do Sistema Internacional? 

Portanto, é possível identificar 3 pontos que o crescimento da utilização de energia renovável praticadas pelo Estado chinês, terá como consequência:

  1. O benefício para o meio ambiente como um todo ao colocar estas pautas cada vez mais nas esferas multilaterais, em temas de high politics;
  2. a nova era para captação e utilização de energia, de modo a prover alternativas no desenvolvimento dos setores mundiais energéticos e, eventualmente, econômicos;
  3. a materialização de um terceiro poder como instrumento do Estado, o Energy Power.

Como resultado, se estes pontos forem contemplados, irão de forma empírica, elevar a influência chinesa em diversas regiões do Sistema Internacional.

Sendo assim, para alimentar o debate acerca da percepção da China perante o Sistema Internacional no século XXI, especialmente no que tange o cenário pós-pandemia, podemos elencar outras questões: Será a China capaz de colocar-se como provedora das capacidades materiais no que tange questões energéticas, ou melhor dizendo, a China possui capacidades materiais para desempenhar este papel? 

Para isso, é preciso levar em consideração o direcionamento da economia chinesa, o cenário político doméstico e os planos e estratégias do Partido Comunista Chinês (PCC), que não serão aprofundados neste momento, no entanto, se a resposta em relação ao questionamento for positiva, podemos pensar que irão ocorrer alterações profundas nos pilares do Sistema Internacional, de modo a alterarem-se os paradigmas vigentes. 

Isso então, desdobrará na demanda por alterações de pensamentos e estratégias, o que afetará diretamente os formuladores de políticas - em esferas de influência governamental, não governamental, privada e acadêmica - a fim de identificar o alinhamento com o posicionamento chinês ou não. 

Ademais, levando em conta as exposições acima, caso a China venha desempenhar o papel de liderança mundial, também devemos pensar quais ações os demais países, principalmente o Brasil (da retórica atual anti-china), devem adotar perante este cenário. 


Texto: Guilherme Jeres
Revisão: Samara Oliveira

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