Por que o Etanol não decola no Brasil?

Imagem: CBB

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de etanol no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. A indústria de etanol brasileira, de maneira similar a de outros países, surgiu com o apoio governamental, no contexto da Primeira Crise do Petróleo (1973-1974) em que o governo criou via decreto, em 1975, o PROÁLCOOL, que tinha como objetivo diminuir a dependência brasileira de petróleo importado, introduzindo o combustível derivado da cana. 

Durante as primeiras fases do programa foram colocadas em prática uma série de incentivos ao setor alcooleiro, como programas que tabelavam o preço do combustível, incentivos fiscais, e subsídios. O incentivo estatal resultou em um aumento expressivo na produção e consumo desse produto, saindo de uma produção de 3,706 milhões de m³ em 1980/1981 para 11,829 milhões de m³ de etanol em 1985/1986. 

Nos anos 1990, com o governo de Fernando Collor, se iniciou um processo de desregulamentação do setor, ao passo que os mecanismos de apoio ao etanol foram paulatinamente sendo dissolvidos. Ligado a esses processos, nesse período também se deu um aumento considerável nos preços internacionais do açúcar, enviesando a produção do setor canavieiro em direção ao açúcar em detrimento da produção de etanol. 

Em 1993, foi introduzida a Lei 8.723, que tornava obrigatória o teor de 22% de etanol anidro na gasolina (E22). Esse estímulo ia de encontro com os preços relativamente baixos do barril de petróleo do período, onde o etanol competia com os preços atrativos da gasolina. Na prática, a produção não acompanhou a demanda e foi necessário importar o combustível entre os anos de 1990 a 1996. 

A partir de 2003 o etanol vai ganhar outro impulso. Com a introdução dos veículos flex-fuel, os consumidores poderiam utilizar em seus veículos qualquer proporção de etanol e gasolina. De modo igual, houve maior preocupação com as questões de sustentabilidade e um interesse maior em promover energias renováveis colocaram o etanol em um outro patamar. 

Aproveitando-se desse cenário, o governo Lula vai lançar o que ficou conhecido como a Diplomacia do Etanol. Ela tinha como um de seus principais objetivos criar um mercado internacional de etanol, rivalizando com fontes energéticas tradicionais, como o petróleo, ou seja, o propósito maior era tornar o derivado da cana em uma nova commoditie

Isso colocaria o Brasil em uma posição de destaque como o pioneiro em um tipo de energia limpa e um importante player nesse setor. A estratégia do governo sofreu críticas, principalmente, no que se relacionava com o impacto no meio ambiente do etanol e a questão da segurança alimentar. Esse ponto estava ligado ao suposto impacto que o etanol teria na produção de alimentos, que direcionaria terras agricultáveis para a produção de combustíveis. 

Com a Crise de 2008 e o aumento nos preços internacionais do açúcar, o etanol novamente vai perdendo espaço. Esses fatores, em paralelo com a descoberta do Pré-Sal, em 2006, praticamente colocaram um fim na Diplomacia do Etanol. Assim, finalmente chegamos a nossa pergunta, por que o etanol não decola no Brasil? Podemos elencar dois principais motivos: Competitividade frente ao petróleo e o funcionamento do setor canavieiro. 

Como vimos, a competitividade do etanol depende dos preços internacionais do açúcar e do petróleo. Quando os preços do açúcar estão mais atrativos, a indústria sucroalcooleira vai pender para produção e exportação do adoçante. Além da “disputa” com o açúcar, o nosso etanol compete diretamente com carburantes tradicionais derivados do petróleo, ou seja, quando o petróleo está barato o etanol é mais caro e portanto menos competitivo. 

Mesmo com a questão da sustentabilidade em voga nos últimos anos, o que importa no final para o consumidor é o preço. Como não há tantos benefícios para o setor no Brasil (imagine competir com o Pré-Sal) e outros países tampouco estão dispostos a importar nosso combustível (Estados Unidos e União Europeia impõem fortes barreiras tarifárias), o etanol provavelmente continuará sendo o combustível com o eterno potencial de diminuir a nossa dependência do petróleo.

Por: Thomas Masieiro

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