Lentes Decoloniais: A música como instrumento de resistência

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A teoria decolonial pode também ser entendida enquanto metodologia, ou seja, através dela podemos enxergar e pensar a sociedade em todos os aspectos. Com isso, o colonialismo como aponta Aimé Césaire:
"Foi um processo histórico que se deu a partir da coisificação dos corpos e da categorização e hierarquização dos indivíduos em raças". 
Essa narrativa foi sustentada por diferentes setores da sociedade europeia. A ciência da época, por exemplo, criou justificativas biológicas a respeito da inferiorização dos grupos não brancos. Já a religião, foi utilizada como grande aspecto civilizatório. 

Os colonizados tiveram sua humanidade negada e foram reduzidos aos próprios corpos, corpos esses que, segundo Frantz Fanon, foram renegados à zona do não-ser, onde eram violentados simbólica e/ou fisicamente. O projeto colonial estava intimamente atrelado à ideia de não reconhecer o colonizado enquanto sujeito. Assim, a ele não era permitido possuir narrativas, nem história e nem voz. 

A sociedade moderna opera de maneira similar ao projeto colonial, ainda que o processo colonizatório tenha terminado. Se olharmos para os espaços sociais de poder, quem são os indivíduos que os estão ocupando? Quais vozes são ouvidas? Quais narrativas são contadas? É nesse contexto que se pode perceber a música como instrumento político de resistência. 

A música pode carregar vivências, narrativas e experiências. Pode fomentar debates e trazer novas perspectivas de determinados lugares não centrais. Pode colocar o indivíduo como sujeito, narrando sua própria história. É comum, por exemplo, gêneros musicais como rap, hip hop e funk abordarem sobre violência policial porque partem de locais periféricos, onde normalmente ocorrem situações de abuso de autoridade por parte da polícia. 

Ainda que existam tentativas de deslegitimação desses discursos, eles retratam e denunciam a realidade social e são extremante necessários. Por isso, precisamos reconhecer, debater e enfrentar esses assuntos e tantos outros que “herdamos” do período colonial, que tornam nossa sociedade desigual e sistematicamente violenta. 

A teoria decolonial vai além de um discurso acadêmico, também é um movimento político. E tudo é um ato político, inclusive fazer música. 

Por: Beatriz Pereira

Referências Bibliográficas: 
CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o Colonialismo. Tradução Noémia de Sousa. 1. ed. 1978, Lisboa Livraria Sá da Costa Editora. 
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EdUFBa, 2008. 

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