A era da (des)informação: O fenômeno das fake news

 

Imagem: BBC

Regimes de governo, em especial o democrático, são diretamente influenciados pelos veículos de comunicação disponíveis. A internet se apresenta a partir da década de 1990, período em que se iniciou sua popularização, e possui uma característica bônus em relação às mídias tradicionais, que é a capacidade de seus usuários de interagir. Esta possibilidade abre portas para que o indivíduo dialogue tanto com a informação, quanto com os demais usuários. 

Em si, o termo como é utilizado atualmente, fake news pode ser entendido como toda notícia falsa, ou parcialmente falsa publicada na internet. No entanto, é necessário se atentar ao que Otavio Frias Filho (2018) apresenta em seu trabalho O que é falso sobre Fake News que 
"estas notícias devem possuir conteúdo verificável para que se prove o fato real para serem classificadas como fake news".
Este autor também chama a atenção para a diferença entre as atividades sistêmicas e organizadas de divulgação de notícias falsas e aquelas que o cidadão comum divulga sem malícia ou por um erro de modo esporádico em suas redes ou em seu dia a dia. 

Mas, por que estas notícias falsas são tão credíveis? Em uma primeira vista estas notícias falsas ou manipulada exploram em especial ambientes com temáticas polarizadas, como é o caso do âmbito político. Apresentar notícias em que a oposição ao pensamento padrão de determinado indivíduo, como por exemplo, uma notícia falsa que evidencie um comportamento inapropriado por parte de uma figura pública de esquerda seria facilmente absorvida como verdade pelo público conservador e de direita. 

Como descrito por Renê Braga (2018), uma das explicações utilizadas para a popularização das fake news está no que a psicologia explica como "o fenômeno do viés de confirmação", ou seja, a tendência a buscar e interpretar informações de modo a corroborar com aquilo que já é uma concepção do indivíduo. Justamente por isso, as fake news são, geralmente, criadas com uma estrutura que explore assuntos ou personalidades polêmicas, reafirmando o discurso de um dos lados da discussão. Atribuir ao “inimigo” um comportamento reprovável justificaria a posição discordante.

Outro ponto importante que corrobora para que este tipo de notícia se torne tão facilmente viral está no fato de que efetivamente as pessoas não leem aquilo que estão comentando ou compartilhando. Uma manchete atrativa já é mais que o suficiente para gerar engajamento nas redes, não significando em nenhum momento que os perfis envolvidos na propagação da mensagem tenham lido o conteúdo daquele link. 

Pesquisadores da Universidade de Columbia e do Instituto Nacional Francês divulgaram em 2016 que 59% dos retweets de notícias são de perfis que não clicaram naquele link, ou seja, os artigos não foram lidos antes de serem impulsionados. E mesmo isto já sendo um agravante gigantesco no que se refere ao ambiente digital que moldamos e estamos inseridos, cliques nos links destas matérias também não significam em momento algum que a informação foi lida por completo ou que seu conteúdo foi absorvido pelo leitor. 

De acordo com Delmazo e Valente (2018), o estudo de Nielsen Norman Group divulgado em 2013 mostrou que 81% dos leitores voltam os olhos – o que não significa necessariamente que estão, de fato, a ler – para o primeiro parágrafo de um texto na internet, enquanto 71% chegam ao segundo. São 63% os que olham para o terceiro parágrafo, e apenas 32% voltam os olhos para o quarto.

Isso indica que nossas redes sociais, de modo geral, são ambientes propícios para a divulgação de notícias falsas, contribuindo para a polarização de temáticas polêmicas. Também sinaliza que, provavelmente, apenas ¼ dos leitores iniciais chegaram até este ponto do texto. Com isso, devemos nos atentar ao tipo de leitura em que estamos sendo expostos e, principalmente, nossas atitudes dentro das redes sociais, de modo a minimizar os danos causados por agentes maliciosos, onde podemos ser manipulados em apenas um clique. Ou pela falta dele.

Por: Rafaela Souza

Referências Bibliográficas:
BRAGA, Renê Morais da Costa. A indústria das fake news e o discurso de ódio. In: PEREIRA, Rodolfo Viana (Org.). Direitos políticos, liberdade de expressão e discurso de ódio: volume I. Belo Horizonte: Instituto para o Desenvolvimento Democrático, 2018. p. 203-220.
FRIAS, Otavio (Filho). O que é falso sobre fake news. Revista USP. São Paulo, n. 116, p. 39-44, janeiro/fevereiro/março, 2018.
DELMAZO, Caroline; VALENTE, Jonas C. L. Delmazo, C., & Valente, J. C. L. (2018). Fake news nas redes sociais online: propagação e reações à desinformação em busca de cliques. Media & Jornalismo. Coimbra, n. 32, Vol. 18, n. 1, p. 155-169, 2018.



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